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Ao longe, a cidade desperta com o apito do trem e, pertinho da nossa janela, com o baque do jornal ao encontrar o chão. É o sinal do primeiro entregador, que madruga para trazer as notícias, que chegam quentinhas para acompanhar o café.
O confinamento necessário, imposto pela pandemia, nos fez mudar hábitos. Evitamos saídas desnecessárias para nos esquivarmos de um encontro desagradável com um vírus que não se enxerga. Nesse contexto surge, com frequência, a figura do entregador. Esses indivíduos que com chuva, frio, vento ou sol trazem, na nossa porta, as mercadorias solicitadas. As longas subidas e descidas das ruas de nossa cidade inviabilizam o uso de bicicleta. Então, geralmente, aparecem pilotando uma moto. Se a fome apertou, buscamos o telefone daquele restaurante que costumávamos frequentar até o início do ano e requisitamos o prato preferido. Passados alguns minutos, o que mais desejamos ouvir é o ronco do veículo comparecendo com a refeição. O pior é quando a buzina era para a casa de algum vizinho e fizemos uma corrida em vão até a porta.
Visitar sites de compras online virou quase um costume. Tudo está na ponta dos dedos através de um clique: comidas, roupas, livros, acessórios para uso doméstico e o que a imaginação permitir. Particularmente, tenho ampliado, consideravelmente, minha biblioteca. Vários grupos de leitura estão acontecendo em Santa Maria. Todos interessantíssimos. E um livro puxa o outro. Irresistível não adquirir Clarice Lispector, Cassandra Rios, Eliane Brum, Maya Angelou, Bell Hooks, Ângela Davis, Virgina Woolf, Silvia Federicci, Carolina de Jesus, Raquel de Queiróz, Lygia Fagundes Teles entre tantas outras. Sim, temos priorizado ler mulheres. Afinal, por séculos tivemos que usar pseudônimos por não poder sequer escrever, que vamos recuperando, um pouco, o tempo perdido.
As livrarias estão aceitando pedidos pelo Whats e entregam rapidamente. Que prazer sentimos quando escutamos a campainha e visualizamos o carteiro trazendo os livros vindos de outras regiões do país. O mais divertido é que, apesar de saber que fui eu mesma que encomendei, parece um presente chegando nas minhas mãos. São as pequenas alegrias trazidas pelos rapazes das motocicletas. Mas nem só de cultura e alimentação vive a humanidade. As notícias, por vezes, causam certa dor de cabeça ou estômago e precisamos pedir o socorro da farmácia.
Atualmente, são dias e até semanas inteiras que as nossas visitas se resumiram a esses senhores. Já estamos familiarizados. Sabemos nomes, apelidos e como vai indo a família.
Alguns conversam mais e outros estão apenas preocupados se a máquina do cartão vai funcionar. Em sua maioria, usam máscara e álcool gel corretamente. Os mais afobados chegam com os produtos revirados nas embalagens. Porém, agradecidas, sequer reclamamos. Outro sábado, liguei para um serviço de tele-moto, e o rapaz disse que era o dia de ficar com o filho.
Mandei abraços para a criança, desejei um bom final de semana e pedi desculpas por atrapalhar seu momento de lazer.
Provavelmente iremos usar mais desse serviço, pois estacionar no centro da cidade vai ficar novamente difícil na pós pandemia. O parquímetro não perdoa e a falta de espaços para deixar o carro, por vezes, é irritante.
Como já começaram as campanhas para os pré-candidatos(as) a vereadores(as) da nossa cidade, fiquei me perguntando se algum(a) tem planos para esses trabalhadores. Sabemos que essa categoria atua, em sua maioria, de forma autônoma e, portanto, não devem possuir seguros contra acidentes e outras garantias.
Enfim, o dia finaliza com a pizza ou mesmo o famoso "x" de Santa Maria chegando para o jantar. Um salve para os entregadores!